Então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque é assim que és..."
caio
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
sábado, 24 de setembro de 2011
.
Para poder morrer
Guardo insultos e agulhas
Entre as sedas do luto.
Para poder morrer
Desarmo as armadilhas
Me estendo entre as paredes
Derruídas.
Para poder morrer
Visto as cambraias
E apascento os olhos
Para novas vidas.
Para poder morrer apetecida
Me cubro de promessas
Da memória.
Porque assim é preciso
Para que tu vivas.
hilda hilst
Guardo insultos e agulhas
Entre as sedas do luto.
Para poder morrer
Desarmo as armadilhas
Me estendo entre as paredes
Derruídas.
Para poder morrer
Visto as cambraias
E apascento os olhos
Para novas vidas.
Para poder morrer apetecida
Me cubro de promessas
Da memória.
Porque assim é preciso
Para que tu vivas.
hilda hilst
domingo, 11 de setembro de 2011
.
LVII
Mentem os que disseram que perdi a lua,
os que profetizaram meu povir de areia,
asseveraram tantas coisas com línguas frias:
quiseram proibir a flor do universo.
"Nunca mais cantará o âmbar rebelde
da sereia, não tem senão o povo."
E mastigavam seus incessantes papéis
patrocinando para minha guitarra o esquecimento.
Eu lhes lancei aos olhos as lanças deslumbrantes
do nosso amor cravando teu coração a o meu,
reclamei o jasmim que as tuas pegadas deixavam,
perdi-me de noite, sem luz, sob as tuas pálpebras
e, quando a claridade me envolveu,
nasci de novo, dono das minhas próprias trevas.
pablo neruda
Mentem os que disseram que perdi a lua,
os que profetizaram meu povir de areia,
asseveraram tantas coisas com línguas frias:
quiseram proibir a flor do universo.
"Nunca mais cantará o âmbar rebelde
da sereia, não tem senão o povo."
E mastigavam seus incessantes papéis
patrocinando para minha guitarra o esquecimento.
Eu lhes lancei aos olhos as lanças deslumbrantes
do nosso amor cravando teu coração a o meu,
reclamei o jasmim que as tuas pegadas deixavam,
perdi-me de noite, sem luz, sob as tuas pálpebras
e, quando a claridade me envolveu,
nasci de novo, dono das minhas próprias trevas.
pablo neruda
sábado, 3 de setembro de 2011
Rasteja e espreita
Levita e deleita.
É negro. Com luz de ouro.
É branco e escuro.
Tem muito foice
E furo.
Se tu és vidro
É punho. Estilhaça.
É murro
Se tu és água
É tocha. É máquina
Poderosa se tu és rocha.
Um olfato que aspira.
Teu rastro. Um construtor
De finitudes gastas.
É Deus.
Um sedutor nato.
Hilda Hilst
Levita e deleita.
É negro. Com luz de ouro.
É branco e escuro.
Tem muito foice
E furo.
Se tu és vidro
É punho. Estilhaça.
É murro
Se tu és água
É tocha. É máquina
Poderosa se tu és rocha.
Um olfato que aspira.
Teu rastro. Um construtor
De finitudes gastas.
É Deus.
Um sedutor nato.
Hilda Hilst
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
quando setembro chegar.
Quando setembro chegar…
Quando setembro chegar o inverno terá acabado e o amanhecer virá me acordar,
apressado.
Não mais haverá folhas secas caídas ao chão, pois as cores, antes tímidas,
voltarão em puro êxtase, bailando num festival deliciosamente provocante.
Quando setembro chegar o sol estará pleno, iluminando os mares do meu mundo.
Uma brisa suave teimará em bater de leve em meu rosto, desajeitando meus cabelos
úmidos e pesados. Um aroma antigo se fará presente, trazendo consigo a quietude
do meu ser.
Quando setembro chegar serei embalada por uma música e por alguns instantes
deixarei de respirar. Em órbita, minha razão terá sido arrancada de mim por algo
que não pretendo explicar.
Teremos tempestade. Ventania.
Um doce fechar de olhos.
Um meio sorriso preso nos lábios.
Quando setembro chegar correrei ao encontro dos sentidos. Ao abrir uma janela
descobriria um novo cheiro, ao escancarar uma porta um novo gosto. Na intimidade
de um toque, desvendaria um olhar.
Uma onda de felicidade atingirá todo meu corpo. Alegria em forma de espuma nos
pés, contentamento em forma de grãos de areia nas mãos. Não haverá nuvens no meu
céu.
Quando setembro chegar eu serei todas as estações do ano…
Quando setembro chegar o inverno terá acabado e o amanhecer virá me acordar,
apressado.
Não mais haverá folhas secas caídas ao chão, pois as cores, antes tímidas,
voltarão em puro êxtase, bailando num festival deliciosamente provocante.
Quando setembro chegar o sol estará pleno, iluminando os mares do meu mundo.
Uma brisa suave teimará em bater de leve em meu rosto, desajeitando meus cabelos
úmidos e pesados. Um aroma antigo se fará presente, trazendo consigo a quietude
do meu ser.
Quando setembro chegar serei embalada por uma música e por alguns instantes
deixarei de respirar. Em órbita, minha razão terá sido arrancada de mim por algo
que não pretendo explicar.
Teremos tempestade. Ventania.
Um doce fechar de olhos.
Um meio sorriso preso nos lábios.
Quando setembro chegar correrei ao encontro dos sentidos. Ao abrir uma janela
descobriria um novo cheiro, ao escancarar uma porta um novo gosto. Na intimidade
de um toque, desvendaria um olhar.
Uma onda de felicidade atingirá todo meu corpo. Alegria em forma de espuma nos
pés, contentamento em forma de grãos de areia nas mãos. Não haverá nuvens no meu
céu.
Quando setembro chegar eu serei todas as estações do ano…
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