quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Aluga-se um corpo!

Aluga-se um corpo.
Duas décadas de uso.
Bom estado de conservação.
Requer poucos reparos.
Ideal para efemeridades.
Acompanha perfume,lingeries e desejos.
Prazer garantido.
Sigilo total.
Oportunidade única.
Aluga-se um corpo.
Porém, vazio.
Sem rosto.
Sem alma.
E sem coração.
Esse é nosso grande aprendizado...
Saber entender que se não conseguimos ter tudo o que almejamos,
precisamos valorizar tudo aquilo que conseguimos obter,
pois é a recompensa pelo que fizemos.
E isso jamais pode ser relegado a plano secundário.
Tudo o que foi conseguido, deve representar vitórias nossas, e ser assim valorizado.
Podemos ter novos objetivos, mas jamais poderemos desprezar o que foi obtido.
E assim, estaremos atravessando o portão do eterno presente...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Quando me tratas mau e, desprezado,
Sinto que o meu valor vês com desdém,
Lutando contra mim, fico a teu lado
E ainda perjuro, provo que és um bem.
Conhecendo melhor meus próprios erros,
A te apoiar te ponho a par da história
De ocultas faltas, onde estou enfermo;
Então, ao me perder, tens toda a glória.
Mas lucro também tiro desse ofício:
Curvando sobre ti amor tamanho,
Mal que me faço me traz benefício,
Pois o que ganhas duas vezes ganho.
Assim é o meu amor e a ti o reporto:
Por ti todas as culpas eu suporto.

William Shakespeare

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

(...) é preciso partir
é preciso chegar
é preciso partir é preciso chegar...
Ah, como esta vida é urgente!...
No entanto eu gostava mesmo era de partir...
e - até hoje - quando acaso embarco
para alguma parte acomodo-me no meu lugar
fecho os olhos e sonho:
viajar, viajar
mas para parte nenhuma...
viajar indefinidamente...
como uma nave espacial perdida entre as estrelas.

MárioQuintana
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...

Mário Quintana

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Amar: Fechei os olhos para não te ver e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurrose palavras mudas que te dediquei...

O amor é quando a gente mora um no outro.

Mário Quintana

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

“Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida.
Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos.
O ‘amar os outros’ é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra.
As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto.
Tenho que me apressar, o tempo urge.
Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida.
Amar os outros é a única salvação individual que conheço:
ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca [...].”

Clarice Lispector

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Não sei…
Se a vida é curta ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos.
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela.
Não seja nem curta, Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura…
Enquanto durar!
Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo. Gênero não me pega mais. Além do mais, a vida é curta demais para eu ler todo o grosso dicionário a fim de por acaso descobrir a palavra salvadora. Entender é sempre limitado. As coisas não precisam mais fazer sentido. Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada. Porque no fundo a gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro.”
Clarice Lispector

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Saudade é um pouco como fome.
Só passa quando se come apresença.
Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco:
quer-se absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro parauma unificação inteira é um
dos sentimentos mais urgentes que se tem navida.

ClaRice Lispector