sábado, 27 de novembro de 2010

{...} há impossibilidade de ser além do que se é no entanto eu me ultrapasso mesmo sem o delírio, sou mais do que eu, quase normalmente tenho um corpo e tudo que eu fizer é continuação de meu começo... a única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo.

Quem sou? Bem, isso já é demais.

clarice.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

De seguro,
Posso apenas dizer que havia um muro
E que foi contra ele que arremeti
A vida inteira.
Não. Nunca o contornei.
Nunca tentei
Ultrapassá-lo de qualquer maneira.
A honra era lutar
Sem esperança de vencer.
E lutei ferozmente noite e dia,
Apesar de saber
Que quanto mais lutava mais perdia
E mais funda sentia
A dor de me perder.


Miguel Torga

Dá-me a tua mão.

Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir,
nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio e nesse silêncio profundo se esconde minha imensa vontade de gritar.
Clarisse Lispector