Acima da verdade estão os deuses.
A nossa ciência é uma falhada cópia
Da certeza com que eles
Sabem que há o Universo.
Tudo é tudo, e mais alto estão os deuses,
Não pertence à ciência conhecê-los,
Mas adorar devemos
Seus vultos como às flores,
Porque visíveis à nossa alta vista,
São tão reais como reais as flores
E no seu calmo Olimpo
São outra Natureza.
Ricardo Reis - Odes De Ricardo Reis
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
I
[...]
O porto que sonho é sombrio e pálido
E esta paisagem é cheia de sol deste lado…
Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio
E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol…
[...]
Não sei quem me sonho…
Súbito toda a água do mar do porto é transparente
E vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvore, estrada a arder em aquele porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma…
Fernando Pessoa - Chuva Oblíqua
[...]
O porto que sonho é sombrio e pálido
E esta paisagem é cheia de sol deste lado…
Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio
E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol…
[...]
Não sei quem me sonho…
Súbito toda a água do mar do porto é transparente
E vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvore, estrada a arder em aquele porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma…
Fernando Pessoa - Chuva Oblíqua
O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visivel faz-me andar mais depressa
E ve menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma cousa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a nao vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas,
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no méio.
Alberto Caeiro - O Pastor Amoroso
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visivel faz-me andar mais depressa
E ve menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma cousa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a nao vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas,
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no méio.
Alberto Caeiro - O Pastor Amoroso
IV
Que pandeiretas o silêncio deste quarto!…
As paredes estão na Andaluzia…
Há danças sensuais no brilho fixo da luz…
De repente todo o espaço pára….
Pára, escorrega, desembrulha-se…,
E num canto do tecto, muito mais longe do que ele está,
Abrem mãos brancas janelas secretas
E há ramos de violetas caindo
De haver uma noite de Primavera lá fora
Sobre o eu estar de olhos fechados…
fernando Pessoa - chuva oblíqua
Que pandeiretas o silêncio deste quarto!…
As paredes estão na Andaluzia…
Há danças sensuais no brilho fixo da luz…
De repente todo o espaço pára….
Pára, escorrega, desembrulha-se…,
E num canto do tecto, muito mais longe do que ele está,
Abrem mãos brancas janelas secretas
E há ramos de violetas caindo
De haver uma noite de Primavera lá fora
Sobre o eu estar de olhos fechados…
fernando Pessoa - chuva oblíqua
sábado, 7 de janeiro de 2012
Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém!
clarice lispector
clarice lispector
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
Recomeça
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…
Miguel Torga
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…
Miguel Torga
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
De repente,
num instante fugaz,
os fogos de artifício anunciam que
o ano novo está presente e o ano velho ficou para trás.
De repente, num instante fugaz,
as taças de champagne se cruzam e o vinho francês borbulhante anuncia que o ano velho se foi e ano novo chegou.
De repente, os olhos se cruzam,
as mãos se entrelaçam e os seres humanos,
num abraço caloroso,
num só pensamento,
exprimem um só desejo e uma só aspiração: PAZ E AMOR.
De repente,
não importa a nação,
não importa a língua,
não importa a cor,
não importa a origem,
porque todos são humanos e descendentes de um só Pai,
os homens lembram-se apenas de um só verbo: AMAR.
De repente,
sem mágoa,
sem rancor,
sem ódio,
os homens cantam uma só canção,
um só hino,
o hino da liberdade.
De repente,
os homens esquecem o passado,
lembram-se do futuro venturoso,
de como é bom viver. .
Feliz Ano Novo !!!
num instante fugaz,
os fogos de artifício anunciam que
o ano novo está presente e o ano velho ficou para trás.
De repente, num instante fugaz,
as taças de champagne se cruzam e o vinho francês borbulhante anuncia que o ano velho se foi e ano novo chegou.
De repente, os olhos se cruzam,
as mãos se entrelaçam e os seres humanos,
num abraço caloroso,
num só pensamento,
exprimem um só desejo e uma só aspiração: PAZ E AMOR.
De repente,
não importa a nação,
não importa a língua,
não importa a cor,
não importa a origem,
porque todos são humanos e descendentes de um só Pai,
os homens lembram-se apenas de um só verbo: AMAR.
De repente,
sem mágoa,
sem rancor,
sem ódio,
os homens cantam uma só canção,
um só hino,
o hino da liberdade.
De repente,
os homens esquecem o passado,
lembram-se do futuro venturoso,
de como é bom viver. .
Feliz Ano Novo !!!
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