segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Wonderful never gets old...

beatles.
O que quer dizer diz.
Não fica fazendo
o que, um dia, eu sempre fiz.
Não fica só querendo, querendo,
coisa que eu nunca quis.
O que quer dizer, diz.
Só se dizendo num outro
o que, um dia, se disse,
um dia, vai ser feliz.

leminski

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Lambe Lambe

Passam muitas pessoas no saguão dos aeroportos.
Passam neste aeroporto da agora,
e eu, no meu pensamento,
não me comporto, imagino elas fodendo:
fulano com fulano,
são casados, gozam, fazem planos?
E ela, quer logo que acabe?
E ele, penetra rosnando?
Fantasio as inúmeras possibilidades de encaixes,
em como foram as noites de amor que tiveram para fazer essas
crianças chinesas africanas alemãs francesas mexicanas libanesas
brasileiras cabo-verdianas espanholas cubanas holandesas
senegalesas turcas e gregas.
(meu pensamento é inconveniente mas ninguém sabe,
escrevo num café, estou, por fora, muito chique no cenário
e nitidamente estrangeira.)
Agora passam dois homens.
Sentam à mesa ao lado.
Falam germânico mas a tradução é da mais alta putaria,
Uma iguaria da mais pura sacanagem!
Eu sei, são gays. Eles não sabem que eu sei.
Pensam que escrevo o abstrato
E capricham descansados ao colo do idioma que não alcanço.
Mas sou poliglota na linguagem dos molhares,
cílios a mais antiga cortina do mais antigo teatro
na pátria universal dos gestos, meu bem!
Eles não escapam.
Um chupa muito o outro, que eu sei,
e o magrinho gosta de dar por cima e de lado.
Importante dizer que dentro desse meu pensamento safado
também não tem pecado.
Só me diverte
Ver o que todos negam,
O que não se diz no social,
Uma radiografia verbal da intimidade alheia é o que faço aqui,
Sem que ninguém suspeite,
Sem ninguém me permitir.
Aquele tem pau pequeno e, pior que isso,
e, mais que suas parceiras, acha isso um problema.
Aquele ali também tem, mas arde na cama e se empenha muito
compensando a diferença.
Aquela, num outro esquema,
diz não gostar da coisa
e fala sem parar.
Só uma pirocada de jeito para fazê-la calar.
A gostosa gordinha engole a espada todinha
daquele altão desajeitado,
cujo grosso membro se torna,
em meio às coxas dela, disfarçado.
E o velhinho punheteiro
De pau mole com jornal no colo?
Talvez seja o único a adivinhar o teor dos meus escritos,
dado que me olha dissimulado e constante
de modo a nunca perder meus segredos de vista.
(Com licença mas é dessa matéria hoje minha poesia)
Enxerida, vejo a mulher com cabelo cortado à la moicano
Com a menina que iniciara a tiracolo,
Feliz sem ser por ela lambida
E sem saber no que estou pensando.
Passam as pessoas
no saguão do aeroporto,
fingem que fazem check-in
fingem viajar sérias e de férias,
fingem estar trabalhando...
mentira,
pra mim ta todo mundo trepando!

Elisa Lucinda

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Livro do frio

Estou nu diante da água imóvel. Deixei minha roupa
no silêncio dos últimos ramos.
Isto era o destino:
chegar à margem e ter medo da quietude da água.

Antonio Gamoneda

domingo, 6 de outubro de 2013

Loucura assumida,
 loucura compartilhada,
 loucura disfarçada, 
e dignificada, mas de qualquer maneira loucura...

Ajuntei todas as pedras
que vieram sobre mim.
Levantei uma escada muito alta
e no alto subi.
Teci um tapete floreado
e no sonho me perdi.

Uma estrada,
um leito,
uma casa,
um companheiro.
Tudo de pedra.

Entre pedras
cresceu a minha poesia.
Minha vida...
Quebrando pedras
e plantando flores.

Entre pedras que me esmagavam
levantei a pedra rude
dos meus versos.


cora coralina - das pedras

terça-feira, 10 de setembro de 2013

"Tudo está preparado para a vinda das águas.Tem
uma festa secreta na alma dos seres.O homem nos 
refolhos pressente o desabrochar.
Caem os primeiros pingos.Perfume de terra molhada
invade a fazenda.O jardim está pensando...
Em florescer.

Manoel de Barros (Livro de Pré-Coisas)
vida.
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Poderia lhe desejar tudo ou nada! Mas no momento só consigo lembrar daquele conhaque barato.
Então é isso!
Uma boa dose de conhaque para você.

=]

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Apaga,
esconde,
pare
para admirar.
Não minta,
não finja,
se deixe levar.
É no medo
que se cria,
que se vê
nascer
coragem.
Vilão que assombra
mas ensina,
que fere
mas ensina a curar.
Escuridão,
tão escura,
apaga o sol
para que me faça
ver a lua.
Me ensina,
que todo dia
precisa da noite,
que existem
males
que vem para o bem.


João Pedro Doederlein

terça-feira, 23 de julho de 2013

“Fazia muito tempo que eu não tinha vontade de sorrir para nada nem para ninguém,
então era extraordinário que ele conseguisse perturbar assim os cantos de meus lábios.” caio f.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

O ócio não me limita, me inspira!
É bom ter nossos devaneios pela irrealidade
O ruim é o ócio de amor, de sorrisos.
Quando pensam que estou só, na verdade estou cheio como bolso de uma criança
Com o pensamento transbordando como um copo de leite com chocolate
Rodeado de coisas boas: de infância, de afagos de mãe, de banhos de chuva...
Muitas vezes me completo ficando sozinho
E como é bom sonhar, voar...
Pena que só voamos quando somos crianças
Daí crescemos e podam nossas asas
E nossos sonhos...
Antes meus sonhos eram da cor do abraço de mãe
Sonhava colorido, macio e doce
Meus momentos sozinho eram tão emocionantes como um banho de cachoeira
Mas daí a gente cresce
Amadurece
E contraditoriamente, não ficamos doces
Então hoje, quando me sinto lagoa
Faço chover e,
Transbordo...

terça-feira, 16 de julho de 2013

Um estranho com um sorriso lindo me apareceu naquele noite sinistra, quando eu já não era mais eu, foi mágico e perigoso. E por um momento me vi pertecendo aquele ser e quando dei por mim, já passavam das 5 da manhã. E pensei naquele poema de Carlos "Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?". E me peguei sorrindo ao acordar como uma mensagem cheia de encantos. Talvez eu nunca mais o veja, mas uma coisa é certa! Jamais esquecerei daqueles momentos de insananidade passageira.


13/7
Eu vivo a sorrir, eu vivo a sorrir
...

segunda-feira, 15 de julho de 2013

"O Eu é o mestre do eu . Que outro mestre poderia existir ?
Tudo existe , é um dos extremos.
Nada existe é o outro extremo.
Devemos sempre nos manter afastados desses dois extremos,
e seguir o Caminho do Meio."
Não há nada a ser esperado.
Nem desesperado. 

14.7
Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis.
. . . E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura.

caio f. de abreu

domingo, 14 de julho de 2013

[...]
O resto era só distância.
A distância seria uma coisa vazia que a gente
portava no olho.

 Manoel de Barros

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Nada do que eu fui me veste agora
Sou toda gota, que escorre livre pelo rosto
E só sossega quando encontra a tua boca
13.06

sexta-feira, 24 de maio de 2013

andando devagar,
eu atraso o final do dia. 

manoel de barros
A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez.
nietzsche

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Donde eu venho ninguém me prendia.
Aonde vou ninguém me espera.
Na janela, imóveis, desfilam as paisagens.
Seria belo não chegar a nenhum sítio.
Ficar assim,
viajando dum lugar que não existe
para outro que nunca existirá.


juan bonilla

terça-feira, 26 de março de 2013

Penso em você apesar de não sentir sua falta e muito menos sua presença.
Penso em você porque sinto um vazio, que eu não sei do quê e nem por quê.
Revelo, então, mais uma vez, minha estupidez, já que não é você quem vai me salvar e nem muito menos me catapultar pra uma dimensão mais tranquila e menos ansiosa de coisas que não têm nome.
 
Caio Fernando Abreu

sábado, 16 de março de 2013

Durante um momento de profunda felicidade, a Terra espasmódica se une ao meu corpo vacilante. Quem sou eu agora durante alguns segundos? A Terra mesma. Os dois em comunhão, em amor ela e eu, duplamente desamparados, um conjunto palpitante, reunidos em uma aura.

(Michel Serres)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013


Eu canto porque o instante existe
E a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste: 
Sou poeta.

Irmã das coisas fugidias,
Não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
No vento

Se desmorono ou se edifico, 
Se permaneço, ou me desfaço, 
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa rimada.
E um dia sei que estarei muda: 
mais nada.

Cecília Meireles

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Só nós dois no chão frio
De conchinha bem no meio fio...
...
é apenas fruto de meus devaneios.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

"O ideal seria uma que amasse fazer comparações
de nuvens com vestidos, e peixes com avião; 
Que gostasse de passarinho pequeno, 
gostasse de escorregar no corrimão da escada 
E na sombra das tardes viesse pousar 
Como a brisa nas varandas abertas..."


Manoel de Barros

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

estrela da manhã



Nas ondas da praia
Nas ondas do mar
Quero ser feliz
Quero me afogar.

Nas ondas da praia
Quem vem me beijar?
Quero a estrela-d'alva
Rainha do mar.

Quero ser feliz
Nas ondas do mar
Quero esquecer tudo
Quero descansar.

manuel bandeira